domingo, 22 de novembro de 2009









Entre tantas pessoas que conhecemos, elegemos apenas algumas para aninhar no coração toda a vida. Porquê? Amamos a igualdade ou a diferença? Peças diferentes que por isso se encaixam, ou almas gémeas que vêem a vida através de um mesmo olhar? O mundo dos afecto é misterioso, insondável e surpreendente.
Quando amamos alguém, fazêmo-lo porque sim, entregamo-nos e é só. Depois, os afectos encarregam-se de limar arestas e de encontrar linhas paralelas, de traçar tangentes ou perpendiculares...

O teu nome...

Flor do acaso ou ave deslumbrante,
Palavra tremendo nas redes da poesia,
O teu nome como o destino chega,
O teu nome, meu amor, o teu nome nascendo
De todas as cores do dia!


Alexandre O'Neill, O teu nome

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Dizer o mundo

Quero dizer o mundo, mas ele resiste às minhas tentativas de ser traduzido em palavras. O discurso poético permite, sem dúvida, uma aproximação mais subtil, e também mais volátil. O poema lê-se, relê-se, alcança o éter e provoca incessantemente uma reactivação da leitura. O mundo todo está nas palavras.
Tal como Eugénio de Andrade "Gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos do Verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e poeira, a barro e a limão, a resina e a sol. Palavras rumorosas de sangue, colhidas no espaço luminoso da infância, quando o tempo era cheio, redondo, cintilante.As palavras necessárias para conservar ainda os olhos abertos ao mar, ao céu, às dunas, sem vergonha, como se os merecesse e a inocência pudesse de quando em quando habitar os meus dias. As palavras são a nossa salvação."