terça-feira, 10 de novembro de 2009

Dizer o mundo

Quero dizer o mundo, mas ele resiste às minhas tentativas de ser traduzido em palavras. O discurso poético permite, sem dúvida, uma aproximação mais subtil, e também mais volátil. O poema lê-se, relê-se, alcança o éter e provoca incessantemente uma reactivação da leitura. O mundo todo está nas palavras.
Tal como Eugénio de Andrade "Gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos do Verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e poeira, a barro e a limão, a resina e a sol. Palavras rumorosas de sangue, colhidas no espaço luminoso da infância, quando o tempo era cheio, redondo, cintilante.As palavras necessárias para conservar ainda os olhos abertos ao mar, ao céu, às dunas, sem vergonha, como se os merecesse e a inocência pudesse de quando em quando habitar os meus dias. As palavras são a nossa salvação."

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